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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Solidão

A Solidão

“A solidão, o sentir-se e saber-se só, desligado do mundo e alheio a si mesmo, separado de si, não é característica exclusiva do mexicano. Todos os homens, em algum momento da vida sentem-se sozinhos; e mais: todos os homens estão sós. Viver é nos separarmos do que fomos para nos adentrarmos no que vamos ser, futuro sempre estranho. A solidão é a profundeza última da condição humana. O homem é o único ser que sente só e o único que é busca de outro. Sua natureza – se é que podemos falar em natureza para nos referirmos ao homem, exatamente o ser que se inventou a si mesmo quando disse “não” à natureza – consiste num aspirar a se realizar em outro. O homem é nostalgia e busca de comunhão. Por isso, cada vez que sente a si mesmo, sente-se como carência do outro, como solidão”.

PAZ, Octávio. O labirinto da solidão e Post-scriptum; tradução de Eliane Zagury. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984. p. 175.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Palavras

Palavras


E as palavras riscam.
Passamos por todas aquelas
querelas
com seus pares de sustos.

O entojo do purgante-de-jalapa manicado.
O peixe remoso.
A fruta verdolenga.
O disparate do azul arregalado.
O frege,o galeio,o saracotico, o peteco.
Desbarrela, trubufu espandongado!
O destempero da velocidade.

Enguiçosas
as palavras espeticam
escarrapacham
espantalham


enquanto
arrastamos
o silêncio
com os pés




(francisco marques)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um trato com Nicolas Behr

Um trato com Nicolas Behr

um trato
com voce
Nicolas Behr

cante sua
braxília
brasília
 luxo
 lixo
e tudo
fede ao poder.

um pacto com voce
nicolas behr
cante o cerrado
eu canto a mata
atlantica

chore
o tamanduá
eu choro
o guará


afogo minhas dores
no mundáu
e voce
no paranoá



eu falo com voce
nicolas behr
desta paulicéia
desvairada
onde assola
o crack
o mijo nas calçadas


e te vejo concreto
objeto
entre quadras
superquadras
na mais imperfeita rima



um trato com você nicolas behr

depois de muito anos
mano, qualé ?
eu vou de rimbaud
voce de mallarme

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

de trem para arapiraca

De Trem para Arapiraca


meu pai falou apressado:
__vamo de trem prarapiraca!

...e eu ali
na janela do vagão
ao vento minha camisa voltaaomundo
e com olhos de espanto
decorando nomes
e paisagens.

o barulho do trem
e seu apito
balançavam
a minha meninice.

como achei grande
arapiraca
sua feira na segunda,
o mundo de tordas
enfileiradas,principalmente
o cheiro de fumo
eternizando no ar.

achei singela a igreijinha
do alto do cruzeiro.
a mesa farta de tio nezinho
a timidez de meus olhos
voltados para o chão.

foi a primeira vez que vi
a besta fera da televisão:
meus olhos quase pularam pra fora
com a correria dos cavalos
índios e tanto tiro.

ah! o tempo boi que traga tudo.
duas coisas achei grande por
demais no meu tempo de menino:
o mar de maceió
a feira de arapiraca.

pequenas coisas

Pequenas Coisas

pequenas coisas
deixavam meu coração
sossegado:
o cheiro da nossa velha casa
do café
da bolacha Simpatia da padaria do Lisboa.
O arroz no coco de minha mãe.
O pato ao molho pardo de Dona Ivanilda.
o bom mesmo eram as madrugadas:
o barulho do trem
dos galos.
a alegria disparada
no nascedouro das manhãs
na voz de estrondo do meu pai
a nos acordar pra vida.