PAZ, Octávio. O labirinto da solidão e Post-scriptum; tradução de Eliane Zagury. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984. p. 175.
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
A Solidão
PAZ, Octávio. O labirinto da solidão e Post-scriptum; tradução de Eliane Zagury. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984. p. 175.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Palavras
Passamos por todas aquelas
querelas
com seus pares de sustos.
O entojo do purgante-de-jalapa manicado.
O peixe remoso.
A fruta verdolenga.
O disparate do azul arregalado.
O frege,o galeio,o saracotico, o peteco.
Desbarrela, trubufu espandongado!
O destempero da velocidade.
Enguiçosas
as palavras espeticam
escarrapacham
espantalham
enquanto
arrastamos
o silêncio
com os pés
(francisco marques)
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Um trato com Nicolas Behr
com voce
Nicolas Behr
cante sua
braxília
brasília
luxo
lixo
e tudo
fede ao poder.
um pacto com voce
nicolas behr
cante o cerrado
eu canto a mata
atlantica
chore
o tamanduá
eu choro
o guará
afogo minhas dores
no mundáu
e voce
no paranoá
eu falo com voce
nicolas behr
desta paulicéia
desvairada
onde assola
o crack
o mijo nas calçadas
e te vejo concreto
objeto
entre quadras
superquadras
na mais imperfeita rima
um trato com você nicolas behr
depois de muito anos
mano, qualé ?
eu vou de rimbaud
voce de mallarme
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
de trem para arapiraca
__vamo de trem prarapiraca!
...e eu ali
na janela do vagão
ao vento minha camisa voltaaomundo
e com olhos de espanto
decorando nomes
e paisagens.
o barulho do trem
e seu apito
balançavam
a minha meninice.
como achei grande
arapiraca
sua feira na segunda,
o mundo de tordas
enfileiradas,principalmente
o cheiro de fumo
eternizando no ar.
achei singela a igreijinha
do alto do cruzeiro.
a mesa farta de tio nezinho
a timidez de meus olhos
voltados para o chão.
foi a primeira vez que vi
a besta fera da televisão:
meus olhos quase pularam pra fora
com a correria dos cavalos
índios e tanto tiro.
ah! o tempo boi que traga tudo.
duas coisas achei grande por
demais no meu tempo de menino:
o mar de maceió
a feira de arapiraca.
pequenas coisas
deixavam meu coração
sossegado:
o cheiro da nossa velha casa
do café
da bolacha Simpatia da padaria do Lisboa.
o bom mesmo eram as madrugadas:
o barulho do trem
dos galos.
a alegria disparada
no nascedouro das manhãs
na voz de estrondo do meu pai
a nos acordar pra vida.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
a última estação
na estação de trem de Astapovo
Liev Tolstói
dava fim a sua fuga
aquele graveto verde
mágico
enterrado
por ele e o irmão Nicolai
nos arredores de Iásnaia Poliana
não legou-lhe o paraiso
e nem fez todos os homens felizes
(como assim sonhou o conde Lev)
Ah! Tolstói!
o buraco é mais embaixo.
Grande metáfora
aquela estação,a última, de sua solidão eterna.
Aos diabos com a igreja
e a usura dos homens!
Há anos
tambem enterrei o meu graveto verde
no fundo do quintal da minha infância
não me fiz feliz
tão pouco vi
esse estado estampando na cara
dos homens
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
'a flor da pele
os ponteiros se tocam no futuro
no ar
frio
e medo
Esta cidade cheira a latrina:
brigadeiro, paulista, ipiranga
luzes ao longe
bëbadas
labirinto fluorescente
no sonämbulo céu
de setembro
truvo guardião
de nada
manto espesso
sobre o lixo das calçadas
Olhos
läminas
fumaça
lama
Nas esquinas há sangue
e hirtos assassinos
...por enquanto quieto
formigueiro
(explodirá a última madrugada)
como cães raivosos
os homofóbicos
atacam no coração da cidade.
__onde o Paraiso
__ cadë Consolação
Meu Deus o zoológico!
O intransponível!
Eis a vida labirinta
tudo aqui é infinito
até o ovo que gora
terça-feira, 23 de novembro de 2010
a saudade aperreia
aperreia outra vez
Quem me substituirá
na compra diária do pão e leite
na Panificação Pinheiro
Por isso
trago no bolso da camisa
uma lágrima recolhida 'as pressas
na concha de minha mão
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
a pequena morte
eduardo galeano
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
queria que voce voltasse
voltasse com aquele sorriso largo
e tirasse a lama da minha alma
e enchesse a casa toda
com sua alegre displicëncia
e pusesse em desordem
os objetos do dia
queria que voce voltasse
assim sem hora marcada
para transbordar melhor
a alegria
...ah! como eu teria tempo
para ouvir tuas maluquices
nos estilhaços da noite
vem!
volta logo
que já me sobram
desamparos
e abandonos
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Ytxala
Karajá olhando tori** com os olhos de fogo
não,voce não viu
a garça
branca rubricando o ar.
voce nem viu
o pör do sol mais lindo
voce não viu
(ali no Araguaia)
as estrelas brilham mais.
voce e sua velha mania
de reunir ruas
e amigos
não teve nem tempo para o silencio.
sorveu o veneno da noite
e as frias horas madrugadas.
suas mãos grandes mãos
pareciam abarcar os sonhos.
sua voz suave
a nos encantar
no insulmo do azul
do dia.
queria um dia te levar
a conhecer Ytxala***
terra dos Inys
*berocam, rio araguaia
** tori, homem branco
*** ytaxa, aldeia karajá
terça-feira, 16 de novembro de 2010
dos bares, o saber
que nos bares a vida pulsa
com seu pulsar mais sincero
há um dizer nordestino
que cada bar tem sua fala
seu ritmo rito cumplicidade
e a complacëncia do dono
para arquivar no prego
a tonta conta
dizem as boas línguas
que prego de bar a conta
envelhecida não fica
e sim dita esquecida
afoguem freud, torturem reich
fora jung aos diabos com lacan
morte aos livros de auto-ajuda
desintegrem a melancolia
o baixo astral,a terapia
tome um chopp e vá 'a luta
que a vida pulsa nos bares
no aconchego dos amigos
no sorriso dos confrades
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
hoje
blues
travo amargo
na garganta
sem o chão
da esperança
hoje
eu
estou sem sentido
e na outra margem
do rio
hoje
perdi a chave
de casa
fiquei preso
na rua
mas sou amigo
dos cachorros
alinhavo
trabalhava a cangalha
em silencio
sob a luz do candeeiro
e
eu com a boca aberta de
sonho
voava
conspirava
transpirava
mundos
de tarzan
e robin wood
sábado, 13 de novembro de 2010
Fruta
barro,
me lembra a infäncia.
das bricadeiras de menino
ainda sei todos os códigos.
minha primeira viagem deslumbrante
foi de trem 'a Maceió.
dela lembro:
a calça azul de mescla do meu pai,
o barulho dos vagões
e a beleza ainda primitiva da Lagoa de
Mundaú.
das rezas de minha mãe
vieram-me o temor de Deus
__nunca entendi o sofrimento de Cristo
num quadro de parede__.
(por que os santos possuem os olhos tristes)
resposta que nunca tive.
o poema que me cabe
contém o cheiro de
terra molhada,
a solidão das montanhas
os sinos de minas
meu coração barroco
o poema que me cabe
contém
as longas mãos
e sorriso de wápurã
as traquinagens
de apoena
o araguaia de thainan
os devaneios de amayi
o poema que me cabe
desagua no Mundaú
rio da minha vida
do meu destino na terra
loa
estilizar o ato.
no átrio da voz
algo veloz
deslizando
rarefeita luz
alumbrando horas.
a partir de agora
vale como canção
este assovio:
__ ó sol
__ ö lua
céu azul!
desatar as palavras,
destinando ao poema
a redescoberta das cores
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
a sala
lutou contra Solano.
trouxe a espada.
ganhou honrarias e medalhas,
terras e muita fama.
possuiu muitas mulheres
e conheceu poucos filhos.
amou as farras e o fado.
viveu cento e tantos anos
entre vinhos e memórias.
jamais caducou.
meu avö possuiu mulheres tantas
que nunca soube seus nomes.
perdeu,nas noites,a terra
com mulheres,jogos e amigos.
morreu e nada deixou.
meu pai só legou o nome
desta vil genealogia.
e ajudou a alimentar
este clã de além mar.
como todos, amou a noite.
e alegrou a noite com sanfona e canto.
hoje, todos nas molduras tão douradas
me olham com espanto e vasculham a sala
entre jacarandás seculares.
e já não andam e nem sonham
com seus próprios pés.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
magia
do papel
que inspira
qualquer treco
palavrinha por
palavra como
quem pega
borboleta
com os olhos
de pescador
eu chego de
mansinho e fisgo
o peixe-poema
tinjo-o de cor
de rosa,
um pouquinho de azul
e lá se
vai meu poema
filho da mesma
cria
rolando
na beira
do mundo
o amor
deixa tudo de pernas pro ar
avessa a vida da gente
invade o peito
não pede licença
o amor quando se vai
não mede a dor
não se justifica
deixa um turbilhão
e nossa casa vazia
a descoberta da poesia
__Esse menino não ri,Maria,
mania essa de juntar palavras,
vai aluar e correr rua
quando chegar a grande lua.
A Mãe:
__Deixa o menino,Antonio,
no seu brinquedo de silencios...
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
tayra e os poetas
já que levastes para perto
de ti
aquela
que amava os poetas
e seus escritos pendurava
em cordeis
pelas praças
pelas ruas
Delega-lhe a função
de pendurar poemas
no
céu,
Senhor.
Outra coisa,
Senhor,
quem colocará no varal:
os nossos sonhos
as nossas iras
as nossas dores
derretidas em versos,
já que levastes
Tayra
e
Wãpurã.*
Senhor
tens a mania
de responder
apenas em silencios
enquanto sangra
os nossos corações...
*tayra,jovem de maceió que participava do projeto Poesia no Varal
**wãpura,meu filho de 23 anos que se encantou
terça-feira, 9 de novembro de 2010
balada
quando te vi
a doçura dos cajus
da minha terra
o amor é uma fruta
meu amor é uma fruta
maria
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
o olhar
e seu corpo era um só músculo,
o coração espasmódico
sua fé lämina despedida
__ele ali e seu Padim_,
seus dedos como um relógio
rosário da sua vida
pedia e agredecia
a graça obtida
o olhar daquele homem
singela fé de sertão
o seu corpo em genuflexo
na fria lage do dia.
na igreja do Socorro
extinguia ácidos do sol
sua alma candieira
fome e olhos de esperança
da sede nos abatia
além do sol quente de morte
no calor do meiodia
Ah! infinito estradar
de murici a juazeiro,
As palmas batidas ao portão,
a dona da casa que chega
e nos serve a fria água
dessa gente hospitalheira
de quentura nordestina
daquele sertão de mundo.
Djalma embola as palavras
ao pedir pouca comida,
a dona adenra a casa
muito bem compreendida,
no portão a nossa espera
uma hora vale uma era.
Passam solenes minutos
da cozinha a mulher não sai,
os olhos firmes de Djalma
penetram toda morada,e,
estático seu corpo está
como natureza morta,enquanto
o pequeno ponteiro
no relógo dar sua volta.
Saimos dali cabisbaixos.
__ela nos deu a melhor água,
o resto não mais importa.
(a memória de seu djalma,
cicero gomes)
perdas número 2
a minha casa da infância
seus objetos rotos
os tortos quadros
na parede.
perdi
os resmungos de meu pai
bulindo em suas catrevagens.
o coqueiro magestoso
o Mundaú carregou.
setembro sem sentido
levou o sorriso do meu filho
e hoje resta
essa lágrima
na concha da mão
domingo, 7 de novembro de 2010
Solilóquio
a solidão do mar
pra chorar
o não do meu amor
só quero a imensidão
do mar
pra sarar
a dor
do meu amor
Olhar no olho
ditame de bem querer
fogo de corpos
luau
por trás dos edifícios
quarado de lua
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Rios
passam águas
muitos rios
Do Rio das Mortes
ao Araguaia
me tranporto rio afora
sertão adentro
pra longe do mar.
Vou escrevivendo
entre águas
novas águas
cursos novos
sob atento olhos
caminheiros.
Passar por Minas é
passar por muitas Minas
montanhas muitas
e rios múltiplos
de águas vindas de lugares tantos.
Do Rio das Velhas, Paraopeba
ao Velho Chico
tudo é um céu mineral.
Muitos rios se encontrando
águas abarcando a vida
ouro sonho
diamante
e líquida miséria
barrancando a vida lentamente.
rio são águas
águas são rios
e o mar assombra
atrai devora.
RioRIOS
como fugir do mar
se o mar é rio mor
é água mãe
Hoje
além dos parcos sonhos
nossas infâncias
recolhidas
retorcidas
como arestas.
...e as águas vão
se vão vivas mortas
do Araguaia
das Velhas
ao Sono
ao Chico
ao Mundaú aporto solítario.
E meu corpo se refaz em sonho
em águas
de um triângulo
sentimental
fluvial
escaleno
no Mar de Alagoas
minha vida
se recolhe
entre águas renovadas
lapidadas
terça-feira, 2 de novembro de 2010
vida vivida
volta de novo vida vivida
quero primaveras
outras noites de são joão
a sanfona do meu pai
solunçando as madrugadas.
quero ao filho contar estórias
de malasartes e malasombro...
perdas
o Mundau a levou
com suas histórias
abacateiro
um pé de pitanga
duas goiabeiras
um pé de acerola
um pé de manga espada
da minha mãe
e o grande coqueiro
que com olhos de arregalo ajudei
meu pai plantar.
perdi a minha casa
e nela esta contida
os temores da minha meninice
as grandes dúvidas da minha juventude.
tudu,tudo o rio levou para o mar sem fim.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
frequentemente cometemos erros tão bonitos
jaboticabas e manga-rosa.
voce me disse
que a boniteza da vida
é roupa no varal.
foi numa belohorizontina tarde
que a verdura da paixão ardia em nossas mãos.
dela só sei o seu nome,
dos seus olhos sei a cor
estrábica luz e torpor.
tudo foi tão poesia
até o duro do adeus
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
O Saber Da Carta
traz o medo aos cuidados
o frio que emociona
a trama,o trase,adivinha.
a carta para o poeta
é um transporte que chega
entulhado de notícias
de drama coloquial.
quem ficou ou está longe
no mais igual cotidiano
sabe que a carta em si
traz o sabor dos anos
de ânsia enigma e espera
domingo, 24 de outubro de 2010
wãpurã:gente bonita
sei decor todos os gestos
e tua mania de reunir nuvens
tua voz abraçava todos os amigos
__agora retardo
todas as primaveras
e com as estrelas
escrevo teu nome
wãpurã:
sábado, 23 de outubro de 2010
volta atrás vida vivida
Volta Atrás Vida Vivida
te quero no tempo hoje
mas volta atrás vida vivida
para que eu possa
recolher no vento
o que não soube viver
volta atrás
com candeeiros
o sorriso do meu filho
estórias na boca da noite
que apredi com minha avó
volta atrás vida vivida
quero os meus peixes meu rio
a casa da miha infancia
que o Mundáu levou
(não importa se houver dor)
vida vivida vivida volta atrás
o sorriso do meu pai
sua sanfona e pouca fala
volta atrás meu são joão
pula fogueira e balão
(não o terror da enurese)
volta atrás vida vivida
meu engenho banguê no quintal
sanhaços e goiabeiras
o coqueiro do meu pai
oh! vida vivida volta atrás
meus passarinhos
e seu canto
meu estilingue
meu ispeque
gaiolas de sabacuim
aquela tristeza amiga
bem na hora de dormir
meu pai nosso apressado
vida vivida volta atrás
e leva esse tempo
que me tirou quase tudo
e me devolva meu filho
seu sorriso de mármore
sua voz de encantar
volta atrás vida vivida
suas horas mais primeiras
quero tudo pouco e simples
na sagração da manhã.
p
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Meu Silencio
ranço remorso
tudo misturado
e essa dor
que arrebenta alem do dia